Nesse quinto domingo da Páscoa, o evangelho lido nas comunidades é tirado do discurso que o quarto evangelho põe na boca de Jesus depois da ceia. O texto de hoje é especificamente sobre a promessa do Espírito Santo (Jo 14, 23 - 29). Antigamente, esse era o evangelho da festa de Pentecostes. Hoje nos ajuda a prepará-la. Sempre me impressionou muito na Bíblia esse assunto da morada de Deus no mundo. No primeiro testamento, Deus promete morar com o seu povo. Ser Deus conosco. No Êxodo, o povo armou uma tenda (a tenda da reunião ou do encontro) que era vazia e na qual se acreditava que Deus descia em sua glória, termo que significa, sinal visível da presença divina (podia ser uma nuvem, por exemplo) e atendia as queixas e pedidos do povo. Essa shekiná (tenda divina) acompanhava o povo no deserto. Mais tarde, Salomão construiu um templo para Deus. Mas, os profetas sempre disseram que o universo inteiro não caberia Deus. Como pode ele morar em uma casa construída por nós? O templo seria a casa na qual é invocado o seu nome, mas ele só revela ali sua presença se o povo antes se preocupa em praticar a justiça. O evangelho diz que Jesus é o novo santuário divino no mundo. A Palavra se fez carne e armou sua shekiná - sua tenda - no meio de nós. Agora Jesus diz que se amamos sua Palavra, seu pai e ele virão a nós e em nós farão morada. É nesse contexto da gente como morada de Deus que Jesus promete a vinda do Espírito. Ele ou ela (em hebraico, o Espírito é um termo feminino) é a presença divina em nós. Cada vez mais percebo que o importante é essa mística do viver em Deus e ele em nós e não tanto em uma religião exterior. Isso não exclui a importância do elemento comunitário, mas o importante é essa dimensão interior da fé. Como Paulo, poderemos então dizer: "Já não sou mais eu que vivo. É o Cristo que vive em mim".