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Meditação bíblica, sábado, 05 de novembro 2016

De Correias, bairro de periferia e no interior de Petrópolis, onde estou no meio de um encontro do meu grupo de teologia (Emaús), faço essa meditação do evangelho proposto hoje pelo lecionário católico: Lucas, 16, 9- 15.

Para o nosso grupo que se reúne duas vezes no ano e sempre começa as reuniões por uma análise de conjuntura do mundo e do Brasil, é impressionante como esse evangelho parece adequado. Vivemos em um mundo cada vez mais dominado pelo dinheiro. A política está cada vez mais desacreditada porque, no fundo, as pessoas percebem que não adianta votar nesse ou naquele, se de fato as cartas já estão previamente marcadas e quem vai mandar mesmo no mundo é o poder econômico. Os governos parecem meros gerentes das grandes corporações que visam apenas os lucros particulares e querem uma sociedade que não ofereça obstáculos a esse objetivo (por isso, usam a mídia e derrubam qualquer governo que ameaçar o domínio arbitrário do dinheiro). 

É nesse contexto que vale a pena ouvir esse evangelho. 

Jesus chama os discípulos e discípulas a se inserirem no mundo e não a se distanciar dele como os grupos espiritualistas que consideram o engajamento como mau. Jesus até diz que devemos ser tão espertos e sabidos no uso da riqueza como os filhos das trevas. Só não devemos nos deixar enfeitiçar pelo encanto das riquezas. O dinheiro é chamado com o nome de uma divindade fenícia mammona. Chamando-o assim, Jesus está dizendo que o dinheiro é comumente um ídolo. Mas, não é para ser rejeitado e sim usado a serviço da amizade. Uma tradução nova e talvez mais fiel à linguagem original diz no versículo 9: “Acumulem amigos e não riquezas". A vinda de Jesus provoca uma mudança repentina e radical e a pessoa que a recebe tem de planejar bem as coisas e agir com eficiência para garantir o futuro novo de Deus que se abre a quem Jesus Cristo se apresenta...” .

  Há uma oposição na linguagem. De um lado: mammona que indica riqueza não só no sentido econômico, mas no sentido do poder e do sistema. Hoje, isso é ainda mais radical do que antigamente. O sistema econômico começa por ser simbólico. Ele conquista corações e se torna a fé de muita gente. Há um livro que diz que este sistema capitalista e de corte neoliberal é a arte de reduzir cabeças. 

 Lucas opõe estes dois modos de ser e de viver. Ou alguém entra no mundo da mammona e se torna como escravo dela e de seu sistema, ou permanece fiel à aliança e assim serve ao reinado divino. São modos opostos de ser. Não dá para conjugar. Lucas é radical: ou você vive a lógica do dinheiro e do poder ou vive a lógica do reino. 

Como diz o salmo 1: “Feliz quem não anda no caminho dos maus, não se detém junto com os injustos e não senta no círculo dos corruptos” (Há uma progressão perigosa: andar na direção do sistema, parar junto com quem o sustenta e sentar-se no circulo das pessoas que lhe pertencem). 

Ao invés de fazer um comentário teórico, o evangelho mostra que os fariseus eram muito “amigos do dinheiro” e, por isso, caçoavam de Jesus.

Para Lucas, este grupo é constituído por fariseus. Já conversamos sobre isso. É preciso não generalizar para todos os fariseus e nem pensar que na época de Jesus, eram os fariseus, o grupo mais rico ou mais poderoso. No tempo de Lucas, sim, fariseus e escribas coordenavam as sinagogas. De qualquer modo, Lucas diz que, desde o tempo de Jesus, os fariseus eram “amigos da riqueza”

Jesus denuncia que a mesma ambição de riquezas materiais pode se tornar a pretensão religiosa de ser santo e ter direito ao reino: vocês parecem justos para as pessoas, mas Deus conhece o íntimo de cada um. E aí Lucas junta algumas sentenças de Jesus sobre a radicalidade que o evangelho supõe. 

Deus nos confia uns aos outros, nos confia o mundo inteiro e o universo (o equilíbrio ecológico). Se não somos fieis no que é nosso e no que é pequeno, como seremos nesse grande e sublimo encargo de sermos representantes de Deus para todos os seres vivos?

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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