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Meditação bíblica, sábado, 07 de abril 2012

Vigília

Sábado santo, dia de expectativa e silêncio. No mosteiro de Goiás, o dia era marcado por um refrão que retornava em todos os ofícios litúrgicos e eu repetia de todo o coração: "Levanta-te, tu que dormes, desperta tu que dormes, tu que és a vida de toda a vida". Desde que, aos 18 anos, entrei no mosteiro, descobri a importância da vigília pascal, como dizia Sto Agostinho: "mãe de todas as vigílias da Igreja", útero da fé cristã, sacramento da vida nova que todos desejamos. Conheço um padre italiano, teólogo e biblista que diz ter se tornado padre só para celebrar a vigília pascal e cuidar de que ela seja bem celebrada. Quando eu era noviço, soube que Odo Casel, o monge alemão que redescobriu a centralidade da vigília pascal no cristianismo e escreveu sobre a vigília, morreu durante o cântico do anúncio pascal em uma vigília de Páscoa (1956). Também meu amigo, o padre Geraldo Leite, de modo diferente, faleceu durante uma vigília pascal, celebração que ele amou tanto e ao qual ele tinha contribuído tanto para celebrá-la bem no Brasil. Aqui, em Quarrata, decidi celebrar como em Goiás, primeiramente, a parte das leituras bíblicas e depois sairmos até fora para celebrar o fogo e a luz dessa Páscoa. Tomara que a lua cheia esteja aparecendo no céu. Ali em torno da fogueira, proclamaremos o aleluia pascal e o evangelho da ressurreição segundo Marcos. Depois voltaremos à sala para em torno da mesa celebrar a ceia do Senhor. Nessa mesma noite, Mohamed, amigo marroquino (30 anos), está voltando ao seu país. Sem documentos e sem dinheiro, do mesmo modo que chegou na Itália, (sua ressurreição ainda não é completa), mas vai encontrar sua família e sua namorada e quando lhe perguntaram o que ele queria deixar como mensagem aos amigos italianos, ele disse: "Que vocês aprendam a olhar a vida com o olhar dos outros". Para nós, essa é a possibilidade da Páscoa.  O evangelho de Marcos, o primeiro e o mais leigo de todos, diz que as mulheres, amigas de Jesus, foram nessa madrugada ao túmulo. O evangelho insiste: "Era estava escuro, porque o sol ainda não tinha saído". E ali descobrem a pedra removida e mensageiros de Deus que lhes mandam a Galileia, o lugar mais pobre do país. Lá com os pobres o encontrareis..." E elas partiram às pressas e com medo, diz o texto de Marcos que antigamente terminava assim. Nós vivemos essa madrugada pascal, ainda escura, mas já grávida da luz do grande dia da libertação. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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