No começo dos anos 70, na Argentina, Mercedes Sosa gravou um disco com músicas de Natal. Entre elas, uma me chama a atenção e convido vocês a colocarem o seu nome no Google e se puderem escutá-la na voz envolvente e celebrativa da nossa querida "La Negra":
Canción de cuña navideña
Todos tan alegres
llegó Navidad
y en mi rancho pobre
y en mi rancho pobre
tristeza sonó igual.
No llores mi niño
ya no llores más
que nadie se acuerda
que nadie se acuerda
que no tienes pan.
Allá en un pesebre
dicen que nació
un niñito rubio
rubio como el sol.
Dicen que es muy pobre
pobre como tú
destino de pobre
destino de pobre
destino de cruz.
Cierra tus ojitos
boquita de pan
pliega tus alitas
pliega tus alitas
y duérmete ya.
Repican campanas
llegó navidad
duérmete mi cielo
duérmete mi cielo
mi cielo, sin pan.
Como vocês veem, na música, uma índia pobre diz para o filho não chorar porque é Natal, mas ela diz que mesmo sendo Natal, "em seu rancho pobre" a tristeza soou igual. Diz que não adianta o menino chorar porque ninguém vai se dar conta de que ele tem fome e não tem comida. E aí ela diz que "dizem que em uma estrebaria nasceu um menino, louro como o sol", pobre como tu e que ele tem como tu o destino de um pobre, que é o destino de cruz.
Alguém pode pensar que mensagem de Natal mais triste e pouco esperançosa e feliz... No entanto, essa é a mensagem de um Natal realista e que parece falar do Brasil e da América Latina que vivemos hoje. A insensibilidade social da maioria dos governantes e da sociedade dominante é essa, das pessoas que não se dão conta da criança que chora pela fome. No entanto, nasceu um menino com destino de pobre, destino de cruz e essa é a nossa esperança. Essa é a nossa perspectiva política e o nosso sonho possível: a salvação virá, apesar dos Herodes de hoje e dos imperadores de plantão que eles se chamem Trump, Temer, Macri ou qualquer outro.
O profeta Isaías prometia que toda bota de opressor será tirada e jogada fora e toda arma será quebrada porque "um menino nos nasceu, um filho nos foi dado". Ele é Jesus, ele é a esperança dos nossos corações. Ele é quem nos ensina que o outro (o diferente) é possível e é bom para nós. Ele nos faz descobrir sua presença discreta e amorosa nos movimentos sociais e na gravidez já bem adiantada de uma América Latina libertada. Feliz Natal para vocês.