Acabo de participar de uma celebração "normal" em uma paróquia popular. Faço isso por amor aos meus irmãos padres e como sinal de comunhão com essa Igreja local. Entretanto, devo confessar que me sinto como um estranho no ninho e me sinto mal. Percebo que tenho outra teologia e uma expressão de espiritualidade radicalmente diversa ou mesmo contrária. O que pensar de uma celebração na qual a Igreja parece centrada sobre si mesma e na qual o mundo de fora não existe? Como conceber a missão restrita ao religioso e a própria religião reduzida à sua dimensão de devoção? Sofro ao sentir que a religião é manifestada só como sentimento e não como compromisso de vida e é reduzida a uma dimensão devocional quase supersticiosa e meramente sentimentalista (respeito e aprecio o sentimento, mas tenho alergia ao sentimentalismo). E não há teologia por trás da palavra, a não ser uma espécie de doutrina meio infantil e meio mágica (com todo respeito aos mágicos profissionais. Que eles me perdoem a comparação indevida). Meu Deus, será que não sou eu que sou exigente demais, diferente do comum e que penso ter o povo o direito de receber um alimento de fé mais denso, adulto e crítico?
Como explicar que toda a teologia e a eclesiologia do Concílio Vaticano II despareceu totalmente de nossa Igreja e que voltou o triunfalismo da antiga cristandade do começo do século XX? O que isso que se encontra aí tem ainda a ver com o evangelho de Jesus? E o que significa a celebração do Natal nesse contexto no qual Igreja e propaganda comercial competem entre si quem será mais superficial e banal???
"Vem, ó filho de Maria, vem do céu sabedoria, quanta sede, quanta espera, quando chega, quando chega aquele dia?"