Neste domingo, as comunidades católicas e anglicanas escutam a chamada parábola dos talentos (Mt 25, 14 ss). Conta que um homem rico ia viajar e deu a um servo cinco talentos (moedas de ouro); a outro, deu três e a outro, um. Quando voltou de viagem, pediu contas e o servo que tinha recebido cinco lhe entregou dez. Tinha lucrado cinco. O que tinha recebido três também lucrou outros três, enquanto o que ficou só com uma moeda lhe devolveu a moeda dizendo que a tinha enterrado para não perder. O patrão elogia o servo que fez multiplicar o seu dinheiro e expulsa o que ficou com pouco e ainda diz: "A quem muito tem, mais lhe será dado. Ao que tem pouco, lhe será tirado ainda o pouco que tem". Essa parábola nem me parece ter sido contada por Jesus. Parece uma parábola de defesa do capitalismo e do lucro desigual das pessoas. É muitas vezes usada para incentivar o individualismo (cada um tem de fazer tudo para fazer prosperar os talentos que recebeu) e chama de talento a inteligência, as chances da vida, etc. Além disso, ainda por cima parece comparar Deus com um patrão de banco... Horrível. Não penso que Jesus tenha querido dizer nada disso. Ele pega um fato ocorrido em sua época, denuncia que o mundo é assim (a quem tem mais lhe é dado e a quem não tem se tira até o pouco que tem) e diz que os seus discípulos têm de aprender disso: o que podemos aprender disso? A ser previdentes e nos preparar para a vinda de Deus. É só isso que a parábola quis dizer. Se o pessoal do capitalismo investe e ganha, quanto mais nós devemos nos preparar para o reinado divino e estar sempre prontos para acolher o momento de Deus.