A Bíblia e as tradições orientais Quando eu e outros companheiros começamos o Mosteiro de Goiás, a nossa comunidade (beneditina) decidiu que cada dia cantávamos e orávamos os salmos e a liturgia das horas, de modo que os vizinhos pobres que quisessem pudessem participar da oração, compreendendo os textos e sentindo a oração inserida na sua cultura. Isso nos obrigou a retraduzir salmos e textos bíblicos em uma linguagem mais atualizada e simples. Com uma equipe de liturgistas, biblistas e artistas, elaboramos o “Ofício Divino das Comunidades” que se espalhou por todo o Brasil e hoje já tem mais de doze edições esgotadas. Ao mesmo tempo, decidimos também que, cada dia da semana, orávamos como cristãos, mas em comunhão com uma das grandes ou mais conhecidas tradições espirituais da humanidade. Cada segunda-feira, orávamos em comum com as tradições hindus ou com o Budismo. Cantávamos mantras dessas religiões e ouvíamos textos sagrados dessas tradições. Isso me fez olhar a própria Bíblia com outro olhar. Descobri que além da dimensão social e ética que os textos bíblicos sempre trazem, é possível e é bom descobrir neles uma dimensão interior que nos chama ao que diziam ser a espiritualidade de São Bento: habitar consigo mesmo. Os profetas e salmos insistem muito nessa conversão mais profunda do coração e os evangelhos estão cheios do apelo para irmos “para águas mais profundas”. Neste sentido, quero propor aqui, hoje, que oremos, repitamos e meditemos um simples verso do salmo 86: “Senhor, unifica o meu coração, para que eu tema o teu nome” (Sl 86, 11).