As comunidades católicas de toda a América Latina celebram hoje a Virgem de Guadalupe. É memória da tradição segundo a qual Maria, mãe de Jesus, teria aparecido a Juan Diego, índio mexica em 1530 na colina de Tepeyac, México. O mito de Guadalupe pode ter sido uma estratégia dos missionários espanhóis para conquistar os índios para a nova religião cristã. Entretanto, os índios releram a narrativa de forma que a Virgem, vestida como Tonantzin, a deusa lua, incorporava o nome de Maria e de certa forma se comprometida em defender a dignidade dos índios e sua cultura própria. Apesar da ambiguidade inerente a toda a evangelização cristã do tempo da conquista, essa devoção tem ajudado os índios a se reunirem, a manterem suas festas e ritos próprios e a viverem uma devoção cheia de carinho e de profunda relação com a natureza. O trecho do evangelho lido nessa festa (Lc 1, 39 ss) conta que Maria subiu a montanha da Judéia para visitar sua prima Isabel que estava grávida. Foi ajudá-la nos serviços da casa. Ao reler esse evangelho, os índios dizem que Maria subiu a montanha de Tepeyac e veio revelar aos índios sofredores que o Deus do Êxodo, o mesmo que se manifestou a Moisés na sarça ardente, agora se revelava nas flores da colina, flores extraordinárias no inverno de dezembro naquela região. Vinha dizer aos índios: estou com vocês para ajudá-los na resistência e na caminhada de libertação.