Catherine de Hueck Doherthy é uma espiritual russa que propôs como caminho de espiritualidade o que ela, em russo, chamava de poustinia. Literalmente significa deserto. Na realidade, quer dizer a solidão do coração, uma capacidade de quietude e paz na qual a gente curte a intimidade de Deus. Em um de seus livros traduzidos em português que eu li quando jovem, ela explicava que, para desenvolver uma vida espiritual profunda, a pessoa precisa de aprender a cultivar o silêncio interior e a possibilidade de ficar a sós consigo mesmo e se escutar interiormente para escutar o Espírito. Ela comparava isso com a gravidez. Uma mulher grávida parece sozinha, mas ela carrega dentro dela uma vida secreta e esta vida depende dela e toma suas energias totalmente. A interioridade habitada pelo Espírito é assim. Mesmo se a gente está em um supermercado ou uma praça pública ou no meio de uma concentração de massa, você está em diálogo permanente com essa luz interior que dentro de você emana amor.
O pastor luterano Dietrich Bonhoeffer, mártir do nazismo, escrevia: "Na meditação, não se trata de descobrir pensamentos inéditos. Orar não é refletir. O importante é que a palavra divina entre e estabeleça a sua morada em nós do modo como podemos lê-la e compreendê-la. O evangelho diz que Maria guardava no coração a palavra dos pastores e a revolvia consigo mesma. Conosco também é assim. Quando a palavra divina entra mesmo em nosso ser mais íntimo, ela age sobre nós de tal forma que dia e noite não conseguimos nos livrar dela e ela cumpre em nós sua missão sem que nem o saibamos". Que neste tempo do Advento, preparação para o Natal, possamos retomar esse caminho.