Neste domingo, no Brasil, a Igreja Católica celebra a memória de todos os santos e santas que já passaram a outra dimensão da vida. A ideia de santidade foi tão desvirtuada pela própria Igreja no modo de falar dos santos e santas que hoje está em descrédito. Quando eu era menino, a gente chegava a ter desejo de se tornar uma pessoa santa. Hoje, o que significaria ser uma pessoa santa? Se for dar crédito às biografias e vidas de santo que se espalham por aí, poucos de nós desejaríamos para si ou admiraria alguém assim. E ainda tem o problema de que desde a Idade Média, o papa se arvora no direito de canonizar ou seja de ser o único a declarar quem está na lista (canon) dos santos e santas da Igreja. E os critérios nem sempre são claros e transparentes. João Paulo II chegou a canonizar o fundador da Opus Dei e beatificou o papa Pio IX com tudo o que se sabe dele e de sua perseguição aos judeus e aos considerados hereges. A Igreja canonizou o cardeal Roberto Belarmino que em fevereiro de 1600 foi o grande inquisidor que condenou o dominicano Giordano Bruno à fogueira. No caso do papa Celestino V, o único que renunciou ao papado e era um cristão verdadeiro, ele foi preso por ordem do papa que o sucedeu (Bonifácio VIII) e apareceu morto no cárcere e pouco tempo depois o papa o canonizou. Alguém me dirá que são histórias medievais. Entretanto, algumas histórias de hoje não o são e não parecem muito mais recomendáveis. Prefiro deixar de lado esses rituais cuja única função é legitimar e reforçar o poder tido como sagrado e voltar ao evangelho de Jesus que não tem nada a ver com isso. O texto do evangelho lido hoje é aquele no qual Jesus proclama bem-aventurados, ou felizes ou santos os que vivem de modo alternativo à sociedade dos impérios do mundo e anunciam por suas vidas o reinado divino: os que assumem a consciência e o peso de ser pobres, as pessoas humildes, as não violentas, as construtoras da paz, as compassivas ou misericordiosas e assim por diante. Jesus viveu isso profundamente. Nesse caminho se colocam pessoas de todas as religiões e culturas. E Jesus proclama que com ou sem religião, quem vive esses valores faz parte do projeto divino do seu
reinado sobre o mundo. Então hoje me lembro de uma oração que aprendi com os irmãos de Taizé: guarda-nos, ó Deus de amor, na alegria, na simplicidade, na misericórdia, segundo o teu evangelho (das bem-aventuranças) e faze-nos ser testemunhas desse novo modo de viver.