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Nesse aniversário de 75 anos

Ao completar 75 anos de vida....

“Bendiga a minha vida à Ternura Divina, A seu nome, cante todo o meu ser, 

De seus favores e graças sem medida, Jamais poderemos nos esquecer.

Por toda tua vida, de bens te sacia, Como a da águia, tua juventude se renova,

O Eterno Amor realiza sua justiça libertadora,  A quem é oprimido, liberta e promove”

                                                                                 (Salmo 103 – tradução do livro Diálogos com o Amor). 

Como Penha e eu fazemos cada dia aqui em casa, começamos o dia com a Oração da Manhã e recitamos juntos esse salmo de ação de graças pela vida e pelo caminho que caminhamos com Deus. 

No ano passado, ao dar graças a Deus por mais um ano de vida, me lembrei de Jesus, diante do túmulo de Lázaro, ao dar graças a Deus por uma vitória da vida que ainda iria se manifestar (no caso, Lázaro ainda estava no túmulo). No meu caso, há muitas vitórias de Deus sobre a morte e doenças traiçoeiras. Há a mão de Deus me conduzindo por meio de curvas e túneis nem sempre fáceis de atravessar. Há imensa graça divina no pouco que consigo fazer em assessorias e ajudas às pastorais e aos movimentos  sociais, mas principalmente no tanto que tenho sempre aprendido nesse caminho e em tantas graças que recebo dos companheiros e companheiras de luta e de caminhada. 

Neste ano, alguns companheiros e companheiras se juntaram no caminho. Tenho feito esforço para passar a bandeira para irmãos e irmãs mais jovens. Passar conhecimentos, funções e tarefas não é tão difícil, mas eu quero bem mais que isso. Quero o que a Bíblia diz que o profeta Elias passou a Eliseu quando esse pediu: Dá-me uma porção do teu espírito.

O fato de ser uma porção (e não o todo) permite passar só o bom e não o menos positivo que tenho em mim. E também pelo fato de ser porção possibilita que a pessoa seja ela mesma e eu não queira me perpetuar no outro. Cada um é ele mesmo e não se substitui ninguém. Mas, podemos sim viver o mesmo Espírito que é o amor e o carisma que Deus nos entrega para viver e é isso que tento passar. 

Entre os vários presentes de aniversário, uma mensagem linda de Dom Mauro Morelli, com seus mais de 80 e sempre amigo. Uma mensagem carinhosa de minha filha Clarinha, coração do meu coração, pai orgulhoso e feliz. 

Nesse ano, tive a alegria de receber na secretaria ecumênica que já tinha Jonathan e Anderson o carisma novo e mais genuinamente afro de Darlan, da Bahia.  Milagre de Deus ver esses meninos tão generosos, criativos e se comunicando comigo como amigo. Agradeço a Deus esse presente que é para mim, mas também para toda a caminhada. Ao mesmo tempo, sinto a firmeza das antigas amizades. Que emoção nesse dia do meu aniversário poder apresentar o meu novo livro Teologias da Libertação para os nossos dias e ter recebido a notícia de que Leonardo Boff e Márcia que passam no Recife decidiram vir participar comigo desse evento. Que alegria. 

Para ninguém de nós, companheiros/as de caminhada, 2019 tem sido um ano fácil. Agradeço a Deus pelo Sínodo para a Amazônia e pelo processo sinodal que continua em muitas Igrejas e regiões como esperança de uma Igreja nova e renovada. 

No hemisfério sul, novembro é final de primavera. Mas, a primavera interior nunca se acaba. É sempre tempo de novas possibilidades e de novos começos. Um tempo de esperança para renascer. A primavera me faz lembrar que o universo brota e vive em mim. E em mim, é o universo que está sempre mudando. 

A terra, mesmo agredida, sempre respira e de novo nos dá vida. Quero escutar e acolher. 

Às sementes que se abrem e raízes que crescem fortes, tenho de ver e acolher.

A erva verde que brota depois da seca ou pior ainda do corte. Quero escutar e com ela aprender. 

Os espinhos que dão flor e os ramos nus que se cobrem de brotos. 

As flores silvestres que, ao vento, dançam nas campinas, acolher e partilhar com meus irmãos e irmãs,

Essa ternura da vida que sempre teima em renascer.  

Os ipês amarelos e vermelhos, em meio ao asfalto da cidade, Preciso ser assim e nem sei como...

Como precisamos ser na ternura e firmeza, forte resistência, em meio às durezas e brutalidades do mundo.

Se, por acaso, tiver mais alguns dias ou quem sabe anos,  para, junto com meus irmãos e irmãs, 

continuar a luta e o caminho da ternura, o jeito é retomar o primeiro amor. 

De todo modo, no mundo e em nós, nunca desistir da primavera 

e poder compartilhar esses sinais de resistência, para dar mais amor e ternura a essa luta divina. Amém. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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