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Noite de festa na UFPB

Noite de festa na UFPB

                “Direitos Humanos e Diversidade Religiosa no Brasil”. Esse foi o tema do encontro marcado para o evento que, ontem à noite, reuniu professores e alunos de Ciências da Religião e também do Curso de Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba em João Pessoa. A proposta era homenagear Gerson Brandão, diplomata e encarregado de assuntos humanitários das Nações Unidas. Fomos convidados eu e ele para uma mesa redonda sobre o tema (Direitos Humanos e Diversidade Religiosa) e ele receberia da Câmara Municipal o título de Cidadão de Honra da Cidade de João Pessoa. Depois, Gerson e eu lançaríamos um livro. Ele lançava o livro “Polarizações políticas e desigualdades socioeconômicas na América Latina e na Europa”. Eu faria o lançamento do meu novo romance Labirintos.

Para isso, viajei a João Pessoa, conduzido por meu amigo Márcio Tavares, que, nessas ocasiões tem sido um verdadeiro diácono para mim. 

O auditório 211 tinha mais de 150 alunos/as e professores/as e o clima era de muita participação e sintonia. A primeira coisa a constatar era que algo daquele tipo não se improviza. É resultado do trabalho maravilhoso do professor Carlos André Cavalcanti, coordenador do curso de Ciências da Religião e do professor Marcos Alan, coordenador do curso de Relações Internacionais. Esse último eu não conhecia, mas Carlos André eu conheço quase desde criança e sempre foi alguém que colocou sua brilhante inteligência amorosa a serviço do diálogo da humanidade e especialmente atento e aberto às expressões espirituais desse caminho humano. Essa vitória deles dois se respirava no ar e no jeito afetuoso com o qual os alunos e alunas prepararam uma peça teatral para retratar o conflito e a dificuldade de aceitação da diversidade cultural e religiosa. 

O professor Gerson Brandão deu sua palavra. Afirmou que de cinco em cinco anos, a ONU faz uma consulta sobre como anda a observância dos Direitos Humanos nos diversos países. Em 2017, o Brasil recebeu 266 recomendações sobre pontos que não estavam bem. (Atualmente esses pontos, digo eu, podem já ter passado de mil) e o que Gerson notava é que entre essas 266 recomendações não havia nenhuma a respeito da intolerância religiosa e das discriminações que as religiões afrodescendentes sofrem no Brasil. 

Em minha palavra, chamei atenção para o fato de que o próprio Diálogo é um termo que, no mundo antigo, surgiu no universo das tradições espirituais. Fiz menção à imensa literatura de diálogo nas escrituras hinduístas, budistas, na literatura bíblica e talmúdica e islâmica. Situei as religiões como métodos que só têm sentido se servem para nos abrir ao amor. E contei um pouco de minha experiência pessoal – o “lugar” onde mais e melhor encontro Deus e posso namorar o próprio Amor é quando tenho a graça de estar com o outro, o diverso. Vivo isso principalmente quando posso estar com grupos das tradições religiosas de matriz afro e de espiritualidade indígena. Ali recebo a graça de viver forte experiência mística.

Achei impressionante como enquanto falava eu via os rostos diante de mim iluminados como em êxtase. Isso também apareceu no momento do diálogo e de testemunhos. Professores como Lousival Barcelos e Elaine Sampaio afirmaram claramente serem missionários dessa causa. No entanto, o mais impressionante era ver muitos rapazes e moças jovens, totalmente inebriados por esse convite a viver a humanização de nós mesmos no diálogo com o diferente e no aprendizado permanente com a outra tradição e outra religião. Depois do encerramento do evento, ao menos cinco rapazes e moças vieram me dizer o seu encantamento e queriam me abraçar. Um deles me dizia: Estou como se estivesse reconduzido a mim mesmo. Muito obrigado. Outro dizia: Nunca alguém me falou assim. Uma moça (Ana Terra) veio atrás de mim e de Márcio pedindo para continuar o diálogo. 

Partilho essa experiência com vocês não para me auto-elogiar. Absolutamente. É para dizer que ainda me sinto admirado como esse tema (Os Direitos Humanos ligados à Diversidade Religiosa) toca tão profundamente no coração de tantos jovens. Mas, por que um assunto como esse (Diversidade Religiosa) pode provocar tal deslumbramento? Penso que, de um lado, é por verem a desumanidade provocada pelo Brasil da intolerância e do ódio provocados pelo governo de psicopatas, criminosos e oportunistas que tomaram conta do nosso país. Sem dúvida, é também por estarem sendo educados por educadores íntegros e dedicados à essa causa como Carlos André Cavalcanti e seus (suas) colegas. Mas, é principalmente, porque somos todos e todas chamados ao Amor e como afirmava Santo Agostinho: o nosso coração só se aquieta quando encontra repouso no Amor

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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