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Nosso compromisso com a causa negra

Hoje, no Brasil, celebramos o Dia da Consciência Negra e recordamos o 328º aniversário do martírio do Zumbi, de sua companheira Dandara e de um grande número de homens e mulheres reunidos no quilombo dos Palmares (1695). 

Há 42 anos, na noite de 20 de novembro de 1981, na Praça do Carmo no Recife, onde, no final do século XVII, a cabeça de Zumbi dos Palmares foi exposta publicamente e pregada em um poste, ali naquele local Dom Helder Camara, Dom José Maria Pires e uma multidão de irmãos e irmãs celebraram a chamada Missa dos Quilombos, cantada por Milton Nascimento e grande coral de cantores e cantoras. Ali, Dom Helder presidiu a Missa e Dom José Maria Pires fez a homilia na qual afirmou profeticamente o seguinte texto que quero retomar aqui: “Estamos presenciando hoje e aqui os sinais de uma nova aurora que vem despertar a Igreja de Jesus Cristo: No passado, ela não amaldiçoou o pelourinho, não abençoou os quilombos, não excomungou os exércitos que se organizaram para combatê-los e exterminá-los. A Igreja não estava com o povo negro e parece que hoje começa a estar. Começa a nos querer bem”. 

Sim, Dom José Maria, o senhor tinha razão ao afirmar naquela homilia: “mais longa do que a servidão do Egito, mais dura do que o cativeiro da Babilônia foi a escravidão do povo negro no Brasil”. 

Mas, agora, mesmo depois de mais de 40 anos, ainda ressoa para nós o seu grito daquela noite: “Chegou o tempo de tanto sangue ser semente e de tanta semente germinar”

Sim, chegou. Nós vamos aquilombar o Brasil. Não vamos descansar enquanto não desmontar a iniquidade do racismo estrutural da sociedade dominante e principalmente o racismo religioso. Não podemos nos conformar em ver pessoas que se dizem cristãs discriminarem outras por serem negras ou índias. Não aceitaremos que continuem a perseguir e atacar comunidades da religião dos Orixás e de outras tradições negras. Junto com o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, o CONIC e com todas as pessoas de boa vontade, se em nome de Jesus eles destroem, em nome de Jesus nós reconstruiremos. 

Bênção, Mãe Stella de Oxossi, minha querida amiga, hoje no Orum. Bênção todos os irmãos e irmãs de cultos afrodescendentes. Axé!

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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