Marcelo Barros
Nos anos C, o
lecionário para a festa da Santíssima Trindade retoma alguns versos do discurso
que, segundo o quarto evangelho, Jesus fez durante a ceia. Esses versos (Jo 16,
12- 16) contém a quinta promessa que, nesse discurso, Jesus fez aos discípulos
e discípulas de lhes mandar o Espírito Santo. Ele diz: “Tenho ainda muitas coisas a vos dizer, mas não sois capazes de as
compreender agora. Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena
verdade. Ele dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas futuras”
(Jo 16, 12- 13).
Neste domingo,
a partir do evangelho que é proclamado, (Jo 16, 12 – 16) os padres e pregadores
vão falar da Santíssima tri-unidade. Deus é Mistério e a única coisa que
podemos dizer dele é o que Jesus nos revelou: que podemos chamá-lo de Paizinho
e viver a intimidade com ele em cada experiência de carinho, amor, amizade e
solidariedade humana.
O evangelho de
hoje nos esclarece que só o Espírito, a energia do Amor Divino, pode nos
ensinar, nos fazer compreender o que Deus e Jesus querem nos dizer sobre o
Mistério Divino, sobre nós mesmos/as e sobre o mundo. Fora disso, nenhum livro,
nenhuma lei e menos ainda Direito Canônico e Catecismos podem conter Deus, como
nenhum templo jamais o conteve. O próprio Evangelho não é ponto de chegada. Não
é uma revelação completa – Só serve como ponto de partida. É importante termos
a Bíblia e as suas explicações, mas o mais decisivo é descobrir o que o
Apocalipse pede a cada uma das Igrejas para as quais escreve: “Escutar o que o Espírito diz hoje às Igrejas”
(Ap 2, 5) . Isso hoje significa ouvir e acolher as intuições e experiências das
comunidades (no Apocalipse, Igrejas eram sempre locais e hoje, o que o Espírito
diz à humanidade laica que busca a justiça, a paz e a comunhão com a Terra).
Como seria bom
que, hoje, valorizássemos mais e mais os evangelhos que Deus nos dá a cada dia.
As boas notícias de Deus nos vêm através das pessoas (irmãos e irmãs) que ousam
anunciar o novo. Algumas delas são, elas mesmas, evangelhos vivos que nos
ajudam a descobrir onde Deus nos chama e para onde nos aponta.
O Espírito é
sempre a energia, o vento que desinstala e ninguém controla. São esses irmãos e
irmãs que hoje, abrem portas e janelas para que entre o Vento impetuoso de um
novo Pentecostes, ventania perigosa, mas, ao mesmo tempo, essencial à Vida e à
Liberdade. Há mais de 50 anos, o mestre Dorival Caymmi cantava:
Vamos chamar o Vento, vamos chamar o
Vento...
Será que temos
sido suficientemente abertos/as a esse sopro da ventania divina que nos
desinstala e nos empurra para um futuro novo?
Nesta palavra
do Evangelho que lemos hoje, Jesus insiste que o Espírito nos anunciará (ou
interpretará) o que vai acontecer... Não
no sentido de previsão do futuro e sim nos dando critérios para interpretar os
acontecimentos tanto da vida pessoal como da realidade social e política. A
vida não é simples e as interpretações não são óbvias. Precisamos do Espírito
de Deus para interpretar. Na Bíblia, anunciar o futuro é prerrogativa de Deus.
É Deus que pode com segurança dizer o que vai acontecer. Não como preveem os
adivinhos e sim como prometem os e as profetas. Quem prevê só diz o que
consegue antever. Quem promete se compromete e isso tem caráter transformador
da realidade. Para os profetas antigos como Isaías e para o evangelho, anunciar
o futuro é prometer que será diferente do presente. Deus diz Sim às nossas
utopias. É garantia de que podemos ter esperança e confiar na transformação de
nós mesmos e do mundo.
Nos anos 1980,
este domingo era considerado o dia das comunidades eclesiais de base. Em várias
dioceses, neste domingo, ocorriam as assembleias das comunidades. Atualmente, a
realidade é mais difícil e as CEBs continuam vivas e operantes, mas sem a mesma
visibilidade. Ou seja, um dos desafios seria retomar a relação entre as
estruturas diocesanas e paroquiais com a caminhada das comunidades.
De 18 a 23 de
julho de 2023 será realizado o 15º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de
Base (CEBs) do Brasil, na diocese de Rondonópolis-Guiratinga, na cidade de
Rondonópolis/MT. Terá o tema CEBs: Igreja
em saída na busca da vida plena para todos e todas. O lema será: "Vejam! Eu vou criar novo céu e uma nova
terra” (Is 65,17ss).
O papa
Francisco pede que em preparação ao Sínodo deste próximo ano, bispos e padres
entrem em contato com as bases não somente das dioceses e paróquias, mas com
pessoas que possam ajudar mesmo de fora. Como seria importante que, no Brasil,
os bispos e padres pudessem incluir o diálogo com as CEBs nesta consulta e no
processo de preparação ao Sínodo que deixa de ser só episcopal para ser mais
eclesial.
No evangelho,
Jesus promete que o Espírito Santo nos guiará para toda a verdade. Não se trata
apenas da verdade nocional ou intelectual e sim da realidade mais profunda da
vida nossa e da vida do mundo.
Desde o ano
passado, várias organizações pastorais ligadas à CNBB e no processo da
realização da VI Semana Social Brasileira criaram o Projeto: “Encantar a
Política”. Nos dias 13 a 15 de maio, foi realizado em Brasília (DF), o
Seminário Encantar a Politica: Eleições Gerais 2022. Participaram lideranças de
todo o território nacional, com representações das cinco regiões do Brasil.
Esse projeto visa devolver à Política o seu caráter de serviço amoroso ao povo
e conscientizar as pessoas e comunidades sobre a importância de assumir a
Política como forma de caridade social, na linha que nos propunha o mártir Dom
Oscar Romero: a política como forma de nos deixar conduzir pelo Espírito no
cuidado com o nosso povo e com a Mãe Terra. Como, em um de seus poemas, dizia
Pedro Casaldáliga:
Onde tu dizes
lei, eu digo Deus.
Onde tu dizes
justiça, paz, amor,
eu digo Deus!
Onde tu dizes
Deus,
eu digo
liberdade, justiça, amor!