Processo de diálogo nas Igrejas e no mundo
Nesta terça-feira, 25 de janeiro, data na qual as Igrejas antigas celebram a memória da conversão do apóstolo Paulo, ao cair da tarde, em Roma, o papa Francisco coordenará uma oração ecumênica com cristãos e cristãs de várias Igrejas, para concluir as celebrações da Semana de Orações pela Unidade das Igrejas. Na Europa, este evento ecumênico ocorreu nesta semana. No Brasil, a cada ano, é realizada em maio, antes da festa de Pentecostes.
Aparentemente, a preocupação com o diálogo e a busca da unidade é uma questão interna do Cristianismo. No entanto, a unidade entre as Igrejas não pode ser dissociada da busca de diálogo e cooperação das grandes religiões do mundo a serviço da justiça, da paz e do cuidado com a mãe Terra e toda a natureza que nos cerca. Atualmente, o mundo está cada vez mais marcado por imensas desigualdades sociais e dividido por tensões e conflitos que provocam sofrimentos para grande parte da humanidade. Por isso, é importante que as Igrejas cristãs possam dar sinal de que a vocação de todos os grupos e pessoas que buscam viver a espiritualidade é o caminho do diálogo e da unidade. Na história, foram as antigas tradições espirituais que, por primeiro, escreveram em forma de diálogos. Na Índia do século V ou VI antes da nossa era, o Bhagavadgita, a divina canção, foi escrito em forma de diálogo entre Khrisna e Arjuna. Na China, os ensinamentos do mestre Confúcio foram em forma de diálogos. No Judaísmo, a maioria dos midraxes rabínicos são diálogos entre mestre e discípulo. Nos evangelhos, Jesus conta quase todas as parábolas em conversa ou respondendo pergunta a seus discípulos e discípulas. Assim, fica claro que o diálogo é caminho de espiritualidade. Na primeira encíclica que escreveu, o papa Paulo VI afirmava: “Quem inventou o diálogo foi o próprio Deus”.
Infelizmente, à medida que as religiões se tornaram dogmáticas e institucionalmente autoritárias, essa espiritualidade do diálogo foi esquecida e, ao contrário, os movimentos religiosos mais apegados à tradição consideram o diálogo como pecado contra a pureza da fé. Desse modo, as religiões acabaram semeando intolerância e mesmo violência. No decorrer dos tempos, até guerras e conflitos foram motivadas por religiões. Só nas últimas décadas, líderes religiosos de várias tradições têm afirmado: nenhuma guerra é sagrada. Nenhuma violência é santa.
Atualmente, a ONU tem entidades inter-religiosas como a Iniciativa das Religiões Unidas (em inglês a sigla é URI) que a assessora como mediadora de conflitos e promotora da Paz, sempre que há religiões envolvidas na divisão e na contenda.
A Igreja Católica e o Conselho Mundial de Igrejas que reúne Igrejas ortodoxas, evangélicas históricas e pentecostais, propõem que se pratique o diálogo intercultural e inter-religioso em várias dimensões ou etapas que se intercruzam e muitas vezes são concomitantes:
1 - o diálogo da vida que se caracteriza pelo conhecer as pessoas e criar relações de confiança e, quando possível, amizade.
2 – o diálogo do serviço, quando pessoas e grupos de diversas culturas e de diversas religiões se unem em defesa da Ecologia, da Justiça social, da Paz ou de qualquer causa nobre da humanidade.
3 – o diálogo da fé quando, já capazes de falar a mesma linguagem humana da confiança mútua e já unidos nas causas sociais, as pessoas ou grupos podem dialogar sobre suas crenças e suas doutrinas. Não para unifica-las, mas para aprender umas com as outras que Deus aceita falar muitos idiomas humanos e as religiões são essas linguagens humanas que, cada uma do seu jeito, expressam o amor divino.
4 – o diálogo da oração e da espiritualidade, no qual uma tradição se enriquece com a forma como a outra ora, canta e expressa o seu amor a Deus e principalmente o Amor Divino pela humanidade e pelo universo.
Assim, vemos como é importante que as Igrejas caminhem juntas na trilha da unidade e as religiões no caminho do diálogo para que a humanidade inteira, independentemente de religiões viva profundamente aquilo que o papa Francisco em sua encíclica Fratelli Tutti chamou de “fraternidade universal e amizade social”.