O Espírito nos espera nas manifestações da cidadania
Há quem continue separando fé e compromisso político. A tendência do povo, mesmo das pessoas pobres é imaginar Deus acima de nós e pensar que o encontramos nos elevando acima do cotidiano da nossa vida. A maioria dos programas religiosos na televisão mostra os padres e pastores que os apresentam como seres meio etéreos que parecem em contato direto com o céu. Na Bíblia, é quase chocante perceber que enquanto o povo pensava em ir em peregrinação a santuários e oferecer sacrifícios religiosos, Deus se revelava no deserto a um bando de fugitivos da polícia do faraó e a sua proposta é de conduzir o povo à libertação social e política e de dar aos sem-terra uma terra fértil e que era ocupada pelos cananeus que dominavam a região. No século VI antes de nossa era, quando uma parte do povo de Deus vivia como escravo na Babilônia (atual Iraque), essas histórias do Êxodo foram contadas para animá-los a manter a sua identidade cultural e se organizarem para voltar à sua terra. No meio dos sofrimentos da escravidão, o mandamento de Deus lhes ordenava de guardar um dia por semana livre do trabalho. Esse direito de parar no sétimo dia da semana deu ao próprio dia o seu nome: shabbat, sábado e até hoje em Israel é o nome com o qual as pessoas designam a greve: shabbat. É como se dissessem que foi o próprio Deus que deu aos trabalhadores o direito de pararem para exigir o respeito à sua dignidade e para viverem a sua condição de filhos e filhas de Deus.
Ao lembrar isso, de modo algum, quero sacralizar os movimentos sociais e às manifestações que os trabalhadores farão nessa sexta-feira no Brasil. Ninguém precisa de recorrer à fé ou a preceitos religiosos para exercer os seus direitos de cidadãos/ãs e lutar por um país mais justo e igualitário. O que reparto com vocês é minha convicção de que a fé e a espiritualidade bíblicas se expressam em todo anseio por justiça social e toda manifestação por igualdade social.
Não precisamos recorrer à Bíblia para perceber que a greve geral e as manifestações contra os projetos do governo de direita se tornam lugares nos quais o Espírito do Amor Divino nos espera porque hoje como ontem, a palavra de Deus nos diz sempre: “Faço novas todas as coisas” (Ap 21, 5).