Acabo de chegar no Recife, na casa de Penha, minha irmã. Vim do centro em um taxi. O motorista, um senhor falador me perguntou: Por que eu sou um bom eletricista, faço contas e consegui dirigir uma pequena empresa e não sei escrever nada? Sou praticamente analfabeto. Perguntei: O senhor fala muito bem e se expressa com liberdade. Ele retrucou: Essa inteligência, Deus me deu. Trabalhava na CELPE (companhia elétrica de Pernambuco) quando o presidente FHC vendeu o Brasil e deu de presente para os estrangeiros a nossa companhia elétrica. Por isso, fui desempregado. Acho o governo da dona Dilma melhor do que os do PSDB, mas não me conformo com o fato dela não falar em reforma agrária e não cuidar da natureza. Eu respondi: O senhor pode ter dificuldade de escrever, mas o senhor é mais culto do que muitos doutores que conheço por aí que não tem essa consciência social. Ele me respondeu: Devo isso ao fato que pertenço a uma comunidade que sempre se reúne e discute os problemas lá no bairro.
Enquanto eu conversava com aquele senhor, tinha nas mãos o Diário de Pernambuco que tinha como manchete de primeira página: No nordeste de cada cinco adultos, um não pode ler esse jornal. Não sabe ler. 15% das crianças entre oito e 14 anos não lê nem escreve. Temos de mudar esse quadro com urgência e ele depende de todos nós. Moro com Ricardo, um professor aposentado que reúne em sua casa três vizinhos que têm vergonha de dizer que não sabem ler e ele promete fazê-los ler em dois meses. Estou torcendo por isso.
(Aos amigos do Recife, lembro o lançamento do meu novo livro amanhã, 6a feira, às 19 horas, na Livraria Cultura. O convite está aí embaixo no setor de livros).