Com feira de livros, tenho uma relação ambígua e dividida. De um lado, adoro ver tantos livros sendo oferecidos e muitos com preço de promoção. Do outro, aquela imensa quantidade e a dificuldade de escolher me aflige e acaba me provocando uma espécie de angústia. Senti isso novamente agora ao visitar a Bienal do Livro no Centro de Convenções de Olinda. Além do barulho e confusão de encontrar escolas inteiras que resolveram levar as crianças para a feira de livros. E de ter, ao mesmo tempo, três, quatro, cinco eventos de lançamentos, de palestras e récitas de poesia. Tudo um ao lado do outro e você tendo de escolher.
Eu sentia algo assim quando uma vez ou outra ia com amigos/as a esses restaurantes ricos que oferecem self service. A escolha é tanta e a riqueza é tal que no lugar de me fazer feliz me deixava angustiado por não conseguir escolher e, ao mesmo tempo, não poder comer tudo o que o desejo me incitava.
Com livro também é assim. Levinas dizia que cada versículo da Bíblia, ao ser lido, diz para o leitor: Decifra-me ou até Devora-me. Quem gosta de livros como eu sente isso com cada livro que encontra. É como se ele me dissesse: me coma, mastigue e assimile o que eu tenho para lhe alimentar. No entanto, para que isso possa ser assim, não pode ser uma inundação publicitária que quer apenas vender livros. Livro não deveria ser objeto de feira. É diferente de uma exposição ou de uma apresentação. Livro é como uma comunicação de algo profundo que merece tempo e ambiente. Como um namoro sério. Penso até que quando a gente convive e aprende a ouvir uns aos outros, cada um de nós é para o outro como um livro. Tem gente que diz "eu sou um livro aberto". De fato, isso não é verdade. Ninguém é. Todos somos livros fechados e misteriosos aos quais só se pode ter acesso pelo amor e pelo diálogo.