Dia do Natal – Jo 1, 1-18
Marcelo
A Boa notícia deste Evangelho (João 1, 1-
18) é tão impressionante, tão radical e revolucionário, que se formos
tirar dele todas as consequências, muita gente e, talvez, nós mesmos o
julguemos exagerado. Sempre nos perguntaremos se, realmente, aguentamos
esta radicalidade e até que ponto. Entretanto, por mais que sejamos audaciosos,
não chegaremos a dizer tanto quanto sugere esta boa notícia do prólogo
joanino.
Na vigília da noite de Natal, a novidade
perene era a memória atualizada do nascimento de Jesus que tem consequências
para nós hoje. No dia do Natal, o prólogo de João nos convida a contemplar a
pessoa humana de Jesus, não apenas em seu nascimento, mas em toda a sua vida e
reconhecer que, na humanidade dele (carne) a Palavra de Deus armou sua tenda.
O que isso tem a ver conosco e como crer
nisso sem cair em uma fé que nos isole ou corte da palavra de salvação que Deus
nos dá através das outras religiões e caminhos espirituais?
É preciso interpretarmos esse texto em uma
perspectiva pluralista e para nos ajudar em uma espiritualidade do Natal que
seja em comunhão com todos os caminhos espirituais.
1º - A primeira coisa que o prólogo do 4º
Evangelho nos diz é que reconhecemos a presença divina na Palavra que é
Comunicação e dê sentido à Vida (Logos). Esta Palavra (humana porque a
palavra é algo próprio dos seres humanos) é divina porque é Luz, é a lei, é a
regra que Deus nos dá para vivermos.
Deus é mistério e não adianta querer
definir ou circunscrever. O Evangelho de hoje termina dizendo: “A Deus, ninguém
nunca viu!”. Mas, aprendemos deste evangelho que ele se manifesta na Palavra
que é Luz e Vida, na comunicação que é amor. Em diversas religiões e mesmo nas
Igrejas cristãs, muita gente procurou fazer a experiência de Deus no silêncio e
no isolamento. Sem negar que o silêncio e a solidão possam nos preparar para o
encontro com Deus e com os outros, assim como o jejum pode nos abrir a saborear
melhor a comida, o Evangelho nos diz que é na palavra que podemos encontrar o
Divino. É na comunicação e na partilha que viveremos nossa
espiritualidade.
Aí o prólogo de João nos diz que o
Evangelho não é apenas um Código, um documento, (hoje está na moda falar em
Código da Bíblia ou dos evangelhos, como se falou em Código da Vinci). O
Evangelho é muito mais do que um documento. É experiência de comunicação em que
nós nos sentimos tocados e mexidos em nossa vida mais profunda. E isso é a luz
da vida.
Quando a gente ouve o Evangelho falar de
luz e de trevas e dizer que a luz é a salvação da vida, isso pode soar muito
teórico e vago, se nunca tivermos feito uma experiência de trevas profundas.
Quem já viveu a experiência do escuro total em um acidente de estrada em uma
madrugada chuvosa ou algum apagão que nos coloque em risco, pode compreender
melhor essa imagem da luz que de repente brilha na escuridão.
A Bíblia diz que a Palavra de Deus (a
Tora) é a luz no nosso caminho, nos dá indicação do caminho da salvação... Mas,
os profetas opunham esta palavra e a carne.... (a criação e a humanidade
separada de Deus). Isaías chega a dizer: “Toda criatura é como a erva do campo.
Apenas floresce, já seca... Ao contrário, a Palavra de Deus permanece
eternamente” (Is 40). A novidade deste Evangelho é que esta Palavra não só
aceita assumir a fragilidade desta criação, mas se torna carne....Deus faz a
sua Palavra carne... (O Verbo se fez carne – é o passivo divino. É o
modo de evitar pronunciar o nome divino....). Deus faz a sua palavra se tornar
carne em Jesus, mas através de Jesus em todo o universo e especialmente em toda
pessoa humana. Em outro lugar, este Evangelho dirá que só em Jesus (e podemos
explicar isso pela exegese), mas no prólogo, não. Diz o contrário: diz que a
Palavra se fez carne em Jesus e que “de sua plenitude, nós todos recebemos
graça sobre graça, graça e mais graça”. v. 18).
A lei foi dada por Moisés... A lei é boa e
santa, como diz Paulo. Ajuda como preparação e método de vida, mas não salva
ninguém, não salvará nenhuma instituição. O Evangelho nos diz claramente que a
salvação nos vem pela verdade amorosa de Deus, oferecida de graça (não precisa
ser de nenhuma religião ou Igreja), através do “Filho único que está no seio do
Pai” e que se revela para os cristãos na pessoa de Jesus de Nazaré.
Esta Palavra assume nossa carne, nossa
humanidade como ela é, sem dogmatismos, nem fundamentalismos legalistas ou
medos institucionais da gente poder ser a gente mesmo... A graça da verdade, ou
a verdade amorosa é dada pelo Pai a Jesus, Palavra de amor e verdade, tornada
pessoa.
Agora, temos um critério novo: onde estiver
a palavra de amor e verdade, onde a verdade amorosa se encarnar em alguém, ali
se encarna o Verbo Divino, a Sabedoria Divina, ali está a Shekiná, a Tenda
Divina para morar conosco. Adoremos.
“Raiou,
resplandeceu, iluminou
Na barra do dia,
o canto do galo ecoou
A flor se abriu,
a gota de orvalho
brilhou
Quando o amanhã surgiu
dos dedos de nosso
senhor
A paz amanheceu sobre
o país
E o povo até pensou
que já era feliz
Mas foi porque
pra todo mundo pareceu
Que o menino Deus nasceu (raiou)
Raiou, resplandeceu,
iluminou
Na barra do dia,
o canto do galo ecoou
A flor se abriu,
a gota de orvalho
brilhou
Quando o amanhã surgiu
dos dedos de nosso
senhor
A paz amanheceu sobre
o país
E o povo até pensou que já era feliz
Mas foi porque pra todo mundo pareceu
Que o menino Deus nasceu
A tristeza se abraçou
com a felicidade
Entoando cantos de alegria e liberdade
Parecia um carnaval no meio da cidade
Que me deu vontade de cantar pro meu amor
Raiou, resplandeceu,
iluminou
Na barra do dia,
o canto do galo ecoou
A flor se abriu,
a gota de orvalho
brilhou
Quando o amanhã surgiu
dos dedos de nosso
senhor
A paz amanheceu sobre
o país
E o povo até pensou que já era feliz
Mas foi porque
pra todo mundo pareceu
Que o menino Deus nasceu
Que o menino Deus nasceu
Que o menino Deus nasceu”
Canção: Menino Deus
Compositores: Paulo Cesar Pinheiro / Mauro Duarte De
Oliveira
Gravada por Clara Nunes.