Para que essa Páscoa seja sem fim
Clínicas de beleza
oferecem rejuvenescimento. Academias proporcionam malhações. Grupos
espiritualistas fazem terapias de renascimento. Todos desejam renovar-se. A
tradição bíblica oferece às comunidades judaicas e cristãs a mística pascal
como instrumento para uma renovação que atinge a pessoa e todo o universo.
Em tempos antigos, a
Páscoa era uma dança da primavera. Fazia as pessoas participarem da renovação
da natureza no hemisfério norte. No sertão, é a época das esperadas chuvas. É
costume cantar na Páscoa um hino antigo: “Cristo
ressuscitou, o sertão se abriu em flor, da pedra, água surgiu, era noite e o
sol raiou, aleluia!”. Essa esperança é o que as Igrejas cristãs celebram
nessa semana pascal e ainda por 50 dias, como se teimassem em transformar o
cotidiano em uma festa permanente.
Na noite desse sábado ou
madrugada do domingo, na grande Vigília pascal, a mais importante celebração da
Igreja, as comunidades escutam um evangelho que narra a corrida das mulheres,
amigas de Jesus, ao túmulo do Senhor, “na
madrugada, quando o sol ainda não havia nascido”. Elas querem perfumar o
corpo do Senhor e se perguntam: "Quem
poderá tirar para nós a pedra enorme que fecha a entrada do túmulo?" Essa
o melhor retrato de nossa Páscoa: uma madrugada ainda escura, na qual esperamos
um amanhecer esplendoroso e brilhante. Um caminho no escuro no qual há pedras
interrompendo a caminhada. No entanto, a boa notícia é que, ao chegarem diante
do sepulcro, as mulheres encontram a pedra removida e um rapaz vestido de
branco lhes diz: "Ele não está aqui. Levantou-se para a Vida nova".
Tivemos há poucos dias um
Fórum Social Mundial que insistia: Resistir
é criar. Resistir é transformar. Essa palavra é a tradução laical
correspondente ao que os cristãos proclamam em sua fé: O Cristo ressuscitou
realmente e assim Deus inaugurou uma nova criação da qual nós fazemos parte e
somos chamados/as a ser testemunhas.
No mundo atual, é urgente que
o escuro da madrugada se transforme em luz do dia. Ansiamos por uma economia
mais justa e transparente. Queremos uma organização social e política mais
participativa. E precisamos de um novo modo de nos relacionar com a natureza.
Se vai raiar um dia de sol ou se a manhã será chuvosa, não depende de nós. A
aurora social e humana, sim. Podemos ajudar a que a madrugada ainda escura da
realidade se transforme em dia ensolarado da justiça. Isso é Páscoa. Fazemos
isso ao participarmos do esforço social por um mundo mais justo, mas também ao
tornarmos mais amorosas nossas relações. No Oriente, os cristãos recordam um
santo monge russo. Viveu no século XIX e se chamava Serafim de Sarov. Vivia em
uma floresta e cada vez que, em seu caminho encontrava alguém, se curvava
diante do desconhecido e dizia: “Ao ver
você, constato que verdadeiramente Jesus ressuscitou e atua para fazer de você
uma pessoa nova. Graças a Deus!”.
Que as celebrações desse
Tríduo Pascal nos ajudem a viver isso. Desejo a cada um/uma de vocês uma santa
e renovadora celebração dessa nova Páscoa.
O irmão Marcelo Barros