V Domingo comum: Mc 1, 29- 39.
Projeto de uma Igreja sinodal e a Mulher
O evangelho deste 5º domingo comum, Marcos 1, 29- 39 continua a mostrar um dia típico da atividade de Jesus e sublinha que a primeira ação de Jesus foi combater o mal onde ele se manifestasse. Primeiramente, Jesus expulsa o mal de dentro da sinagoga, ou seja, do lugar consagrado à Palavra de Deus e à oração. Jesus liberta alguém que, dentro do ambiente religioso, se apresenta com energia negativa.
Hoje, o evangelho conta que, da sinagoga, ele vai para a casa. Na sinagoga, o evangelho mostrava Jesus sozinho. Agora Jesus aparece com seus primeiros quatro discípulos: André e Pedro, Tiago e João. É o primeiro núcleo da comunidade que Jesus forma. Assim, o evangelho estabelece o contraste entre a sinagoga, lugar da instituição e a casa, lugar da família, da intimidade, das relações pessoais.
A casa representa a comunidade dos discípulos e discípulas. Quando esse evangelho foi escrito, a casa significava a Igreja doméstica. Não apenas a comunidade representada por cada família e sim a comunidade de base, o grupo de vizinhança. Marcos vê a casa como símbolo de novas relações de convivência, em um sistema que é contrário ao sistema simbolizado pela sinagoga. Enquanto na sinagoga, as relações se baseiam na lei e na pertença institucional, na comunidade de Jesus, a base é a convivência humana e o cuidado de uma pessoa com a outra.
As pessoas dizem a Jesus que a mulher está com febre. Ele não diz nada. Não faz nenhum gesto. Só “a toma pela mão e a levanta”. Levantar-se é o verbo usado para falar da ressurreição do próprio Jesus. Tomar pela mão é o gesto típico de Deus para salvar o seu povo (Cf. Is 41, 13; 42, 6; Sl 73, 23- 24). E a cena se conclui com a ceia da comunidade a qual a mulher serve. Assim, o evangelho mostra que aquela mulher se tornou discípula e diaconisa, ou seja, servidora. A mulher é integrada no ministério da comunidade de Jesus. A mulher é confirmada na sua missão de cuidadora dos seus irmãos e irmãs.
No judaísmo da época, os rabinos ensinavam que os homens e, principalmente, os rabinos não deviam deixar-se servir por uma mulher. Ao contrário, na comunidade de Jesus, a mulher pode e deve servir como diaconisa. Para isso, ela foi levantada e integrada na comunidade.
Ao dizer que Jesus curou muita gente e que expulsava as energias negativas, o evangelho revela que a missão de Jesus é feita, a partir da casa das pessoas. Ao curar e ao integrar as pessoas na sanidade interior, Ele quer restaurar a casa de Deus em nós...
Em dois versos, temos a primeira síntese ou resumo que aparece no evangelho de Marcos. O primeiro dia de atividade profética de Jesus é um sábado. Jesus se mostra muito livre de agir no sábado, mas as pessoas da cidade não são. Pelo fato daquele dia ser um sábado, as pessoas não podem trazer os seus doentes para Jesus. Tinham que esperar o pôr do sol, porque, ao entardecer, terminava o dia santo. Aí as pessoas carentes de ajuda podiam chegar até Jesus. O evangelho diz que o povo todo da cidade se reunia na porta da casa onde Jesus estava. É alusão à Igreja primitiva. Ali, Jesus cura muitas pessoas doentes e liberta as que estão dominadas por energias negativas (no tempo dele se dizia: estão possuídas pelo demônio). No texto do evangelho, vemos um confronto entre a figura simbólica de Pedro que, para a comunidade de Marcos, representa a Igreja mais institucional e Jesus que chama sempre para ir além, ou seja, “passar para outras aldeias e outros caminhos.
Hoje, o papa Francisco nos chama para uma Igreja em saída e sinodal. Parece esse Jesus que chama Pedro e os discípulos e discípulas a passar para outras aldeias e outros caminhos. No tempo de Jesus, eram caminhos que um bom judeu deveria evitar. Hoje também há caminhos que as Igrejas institucionais têm nos ensinado a evitar e, entretanto, Jesus nos chama a enfrentar, a trilhar, a nos abrirmos à novidade.
Um passo nessa direção é o protagonismo da mulher no mundo e nas Igrejas. Nossa Igreja tem ainda muito a caminhar nessa direção. É fundamental que as nossas Igrejas locais e nossas comunidades se abram à dimensão comunitária interna que integre homens e mulheres no que podemos chamar de discipulado de iguais e, ao mesmo tempo, viva a abertura sempre maior para fora... sem limites, sem condições, só com amor.