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Recado urgente de Deus aos religiosos

Diário da Quarentena – 2ª comunicação

Recado urgente de Deus aos eclesiásticos e religiosos/as do mundo

                   Em momentos, entre o sono e a vigília, sonhei que Deus me sussurrava no pé do ouvido: Você me faz um favor? Avise aos religiosos que estão rezando e pedindo oração que eu não sei mais o que fazer. E ando meio deprimido porque não são os meus inimigos que andam falando mal de mim. São os mais próximos que deixam a entender a humanidade que eu tenho alguma coisa a ver com tudo isso que está acontecendo. Muitos desses caras ficam calados diante da destruição da natureza, não ligam a fé com a realidade social e política e não ajudam o povo a unir as duas coisas, deixam que a sociedade chegasse ao ponto que chegou de desumanidade. Agora, como consequência de tudo isso, um vírus mortal invade a terra, dizem vamos pedir a Deus que nos perdoe e nos liberte desse mal. Como?

Até parece o menino que saiu da escola e me fez a seguinte oração: Meu Deus, faça com que Paris seja capital da Inglaterra, porque foi isso que coloquei na prova. E eu fiquei com muita pena dele, mas tão impotente quanto o pai e a mãe dele em casa que eram os mais interessados de que ele fosse aprovado. 

Um profeta da Bíblia escreveu no salmo: “Os céus são os céus de Deus, mas a terra, ele entregou aos filhos de Adão, ou seja, à humanidade” (Sl 115, 16). 

               Parece que a maioria dos crentes nunca compreendeu isso e continuam achando que eu, Deus, sou tapa-buraco para tudo o que eles mesmos não conseguem resolver, além de que devo consertar hoje o que eles destruíram ontem e vão, de novo, destruir amanhã. Como posso ser Deus assim?

              Por favor, diga a eles que me sinto triste quando ouço falar de padre que pega aviãozinho para jogar água benta sobre a cidade. Avise ao pessoal que se o papa está chamando a humanidade para orar o Pai Nosso e vai expor o pão consagrado na arcada do Vaticano é como sinal de que todo mundo se tornou consagrado pelo meu amor e minha mania de gostar da humanidade. E o papa Francisco quer mostrar que estou com vocês no sofrimento, sofrendo e me sentindo morrendo em cada vítima que sucumbe ao coronavírus. O papa não está orando para que eu volte atrás de minha cólera assassina e me recorde que um dia fui amigo da humanidade. Não é isso. Se você tiver algum meio, diga a esse pessoal que está pedindo oração nesse momento que uma das orações que, em todos os séculos de história, mais me tocaram e me agradaram pela sua verdade foi a prece feita pela jovem judia Etty Hillesum (28 anos) em um campo de concentração nazista. No dia 12 de julho de 1942, esperando o dia de ser executada, ela escrevia em seu diário: "Vou ajudar-te, meu Deus a não apagar-te de mim, mas não posso garantir nada. O que vejo com clareza é que não és Tu quem pode nos ajudar e sim nós que podemos ajudar a Ti e, ao fazer isso, podemos ajudar-nos a nós mesmos. Isso é tudo o que, nesse momento, podemos salvar e também a única coisa que conta: um pouco de Ti em nós, meu Deus.  Talvez, possamos também fazer que venha à luz (apareça) a tua presença nos corações devastados dos outros"[1].   

               Se puder, dê esse recado a todo mundo que você puder e fique com minha bênção e minha paz. 

 



[1] - ETTY HILLESUM, Diario, (1941- 1942), Milano, Adelphos, 1998, p. 110.  Cf. P.LEBAU, Etty Hillesum, un itinerario espiritual, Sal Terrae, Santander, 2000, p. 110. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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