Queridos irmãos e irmãs,
Atualmente, o estilo de vida dos monges e monjas foi institucionalizado em ordens e congregações e isso é pena. Na Idade Média, Sto Estêvão, abade do Mosteiro de Muret, (França), dizia: “Monge ou monja é toda pessoa que busca a unidade interior. A única regra dos monges é o Evangelho da Unidade. A Regra de São Bento existe para nos ajudar a concretizar este caminho”[1]. Nos nossos tempos, o teólogo Raimond Panikkar nos ajudou a redescobrir esta dimensão de consagração monástica, presente em todo ser que busca a unificação interior e a simplicidade[2]. Neste sentido, oblação e consagração monástica se uniriam na mesma natureza de renovação do batismo e profecia na Igreja a serviço da paz e da justiça.
Quanto mais aprofundo a vocação profética da fé judaica e cristã, mais descubro que é o próprio Deus da Bíblia que é profeta ou seja é Amor, comunicação para fora e se dá a nós como Palavra (Verbo). Portanto, não é um deus narcisista que quer adoração e centração das pessoas nele. É um Deus para fora, como o papa Francisco tem proposto uma Igreja para fora, em saída... Quer uma Igreja em saída, uma vida monástica em saída. Uma espiritualidade profética em saída...
Nesta festa de São Bento, penso nos meus irmãos e irmãs, monges e monjas nos mosteiros que conheço. Sinto-me unido a eles e elas em sua busca. No entanto, peço a Deus que encontre urgentemente a forma de dizer a eles e elas que ele, Deus, não gosta de gaiola. Não quer ver ninguém preso e menos ainda que as pessoas creiam que ele, Deus, queira viver em gaiola, preso e isolado. Deus tem fome e sede de contato e de solidariedade e quer uma espiritualidade e mística para fora, em saída. Quer monges e monjas profetas de uma Igreja em saída.
No século IV, surgiu na Igreja a vocação de monges e monjas como uma espécie de rebeldia contra uma Igreja que se acomodava ao império romano e como uma forma não violenta de continuar a vocação dos mártires dos primeiros séculos. Como é urgente que hoje os monges e monjas aceitem de novo serem sinais de rebeldia profética e possam assumir este testemunho corajoso e crítico do reinado divino no mundo.
Ó Deus, Pai de amor, tu nos deste São Bento, como mestre na escola do teu serviço. Dá a nós e a todas as pessoas que te procuram a graça de nunca desistir ou se acomodar nesta procura. Sabemos que te procuramos porque foste tu que por primeiro nos procuraste e nos encontraste. Reacende em nós como fogo devorador esta ânsia permanente de te encontrar em tudo e através de tudo. Dá-nos, no dia a dia de nossa vida, a graça de percorrer com inenarrável doçura de amor, os caminhos dos teus mandamentos e assim viver sempre mergulhados na tua presença. Te pedimos isso por Cristo, nosso Senhor. Amém.
[1] - ST ÉTIENNE DE MURET, Livre de la Doctrine, citado in CONNAISSANCE DES PÈRES DE L’ÉGLISE, n. 19-20, p. 50 (contra-capa).
[2] - RAIMON PANIKKAR, L’Éloge du Simple, Paris, Ed. du Cerf, 1989.