Somos todos magos e magas, reis e rainhas
Seja como for, hoje é 06 de janeiro e o povo lembra que é festa de Santos Reis, santos canonizados pela piedade popular. Pouco importa se a página do evangelho que conta a visita dos sábios do Oriente ao menino de Belém é de tipo simbólico. Os próprios peregrinos, sacerdotes da antiga religião persa dos quais fala o evangelho do Natal em Mateus não aparecem ali como figuras históricas. A tradição cristã do Oriente e do Ocidente os tornou reis magos e fez da viagem deles, conduzidos por uma estrela, do Oriente até Belém o protótipo de toda a busca humana do Mistério.
Pessoas pertencentes a todas as tradições espirituais, como também intelectuais de todas as culturas, mesmo se não pertencem a nenhuma religião específica são chamados a viverem uma verdadeira peregrinação interior. Em meio às lutas da vida, buscam descobrir e penetrar no mistério mais profundo da vida. A luta cotidiana pela existência e a agitação da sociedade atual tenta as pessoas a esquecer ou mitigar essa busca. O sentido mais profundo das celebrações populares do Natal e Reis Magos é revigorar essa procura no mais profundo das pessoas.
A tradição iconográfica retratou os magos como sendo três e um deles seria negro e africano. Já na Idade Média, uma corrente da Síria pintou um outro dos magos como sendo uma bela mulher. Assim, vemos a diversidade de raças e de gêneros, unidos na mesma caminhada da vida e da busca da fé. Muitas vezes, a pregação dos eclesiásticos vê esse relato do evangelho como se se tratasse de uma “conversão dos pagãos ao Cristianismo”. Ao contrário, o texto de Mateus diz que “depois de oferecem os seus presentes, os magos voltaram aos seus países, indicando aí a continuidade de suas vidas, de suas culturas e religiões.
O evangelho também mostra que esses peregrinos da verdade e do amor tiveram de lidar com Herodes. No início, sem saber com quem estavam lidando e depois, ao descobrirem, na busca das estratégias para enganá-lo e dele escapar. Quantas vezes, hoje, pessoas comprometidas com o bem-comum são obrigadas a lidar com os detentores do poder mesmo que sejam como o impostor Herodes que se autoproclamava rei da Judeia. Também os magos tiveram de lidar e mesmo ouvir os sacerdotes do templo e doutores da lei judaica para os quais o conhecimento da Bíblia não somente não os conduziu à busca do Amor, como até, ao revelarem o conteúdo das profecias, deu a dica a Herodes para o massacre das criancinhas.
Nestes dias recebi do amigo Carlos Brandão, apaixonado pelas folias de Santos Reis os versos que neste ano, os foliões podem cantar:
Pai, Filho e Espírito Santo
Vamos nos benzer primeiro
Livrai-nos desse contágio
Que assolou o mundo inteiro
Esse ano a Bandeira
Não visita as famílias
Outro giro com os Três Reis
Só depois da pandemia
Mas não deve haver tristeza
Deus permite a provação
Só se vê o brilho da estrela
Quando cai a escuridão