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Superemos a "era da raiva"

                    Alguém falou que nós vivemos hoje no mundo e, poderia dizer, no Brasil, "a era da raiva" , marcada por uma onda de intolerância e de inaceitação do outro e do diferente. Essa "era da raiva" pode explicar fenômenos como a eleição de Trump nos Estados Unidos e muita coisa que está acontecendo no Brasil. Quando ouvimos falar de extermínio de uma tribo indígena podemos nos perguntar como isso ainda é possível nos dias de hoje e em um mundo conectado como vivemos? Não foi possível impedirmos essa tragédia? E a morte de lavradores, de jovens negros ou não negros nas periferias de nossas cidades? E a violência homofóbica em todo o país? E a intolerância e os atos de discriminação e perseguição às comunidades de religiões afrodescendentes? 

            Quando um juiz, em desobediência clara às orientações da ONU de mais de 20 anos (homossexualismo não é doença e não deve ser tratado como doença) propõe que se adote em Brasil a "cura gay", temos de nos perguntar o que está havendo com a nossa sociedade. A cura não deveria ser dos gays e sim da homofobia, da intolerãncia neurótica e da apatia social diante de tantas injustiças. 
            Nos Estados Unidos, o padre James Martin, jesuíta publicou um livro: " Building a Bridge" (Construindo uma ponte) no qual propõe um diálogo mais profundo entre a hierarquia da igreja Católica e a comunidade LGBT. O resultado disso está sendo uma guerra contra ele nas redes sociais. Universidades que o chamavam para conferências (sobre temas os mais diversos) retiraram o seu convite. Ele tem sido hostilizado a tal ponto que os jesuítas publicaram declarações o defendendo (Vocês podem ler isso no IHU).
               Nesses dias também alguém mandou para mim um pedido para que boicotasse o filme "Corpus Christi" que, como paródia, trata Jesus e os apóstolos como gays. E a pessoa reproduzia o boato de que o filme vai entrar no Brasil e promovido pelo deputado Jean Willys. Tudo absolutamente sem nenhuma prova nem nenhuma base de verdade. Poderia ter respondido isso: é puro boato odiento que devemos evitar de reproduzir sem ter certeza do que dizemos. No entanto, para mim, o mais sério é esse modo de ver a fé e de tratar de Jesus que parece como se ele fosse propriedade nossa, propriedade privada a qual devemos defender como um fazendeiro defende a terra. Creio que Jesus não precisa de mim nem de você para a sua defesa e se quisermos testemunhar o nosso amor a ele, podemos aproveitar e limpar o nome dele da boca dos congressistas ditos da "bancada evangélica" que o sujam e falam dele de forma muito mais violenta e odiosa do que qualquer pessoa que achar que, quem sabe, ele seria gay. Eu não vejo nenhuma base para dizer que sim ou não porque os evangelhos nao tratam disso. Não vejo para que esse tipo de polêmica fundamentalista que não leva a nada, mas se alguém diz isso, certamente Jesus pouco se incomoda. Provavelmente ri dessa brincadeira e se sente bem em ser identificado com gente marginalizada.
                Quem sabe se dizerem que Jesus é gay, como na peça "O avesso do claustro" uma das canções diz" Nâo sei se Deus existe. Não sei se ele é gay ou se toma coca-cola...". Quem sabe, Jesus ficará contente que o vejam como gay se isso deter a violência homofóbica e isso puder defender a população LGBT da intolerância. Ou será que os gays identificados com Jesus serão também crucificados como Jesus foi pelos muito religiosos da sua época? Talvez os muito religiosos de hoje façam a mesma coisa que antigametne fizeram com Jesus. E os impérios de hoje agradeceriam como o império romano agradeceu a colaboração das autoridades religiosas do Judaísmo de Jerusalém no tempo da paixão de Jesus. 
               O que certamente Jesus não aceita identificar-se é com quem oprime e faz cruzada contra os outros. Sem dúvida, ele não aceitará e se ofenderá em ser visto como discriminador e desamoroso. Aí cabe a palavra que indevidamente usaram na propaganda contra o filme gay: " A quem me negar diante dos homens, eu o negarei diante do meu Pai que está nos ceus". Se essa palavra valer é para quem usa a palavra de Jesus para explorar, ou para discriminar e ofender os outros. . A palavra de Jesus não deve servir para ameaçar ninguém e sim para suscitar em nós uma consciência nova de solidariedade, um compromisso de amorosidade por toda a humanidade. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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