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Texto, quinta feira, 31 de março 2016

Cuernavaca, México, 31 de março de 2016

Senhora presidenta Dilma Rousseff,

Mesmo se por esses breves dias, estou fora do Brasil, quero me juntar aos milhões de brasileiros que, nesse dia, recordam o golpe militar de 1964, feito sob o pretexto de combate à corrupção e quero, como brasileiro, dirigir-me à senhora para fazer algumas breves considerações sobre o que estamos vivendo nesse momento no Brasil.

 Como todo brasileiro medianamente informado, sei que a senhora não está acusada de ter cometido nenhum roubo, nem ter em nada defraudado o país. O pretexto que usam para lhe tirar do governo é o que chamam de “pedalada fiscal”, ter tomado dinheiro do BNDS para os programas sociais (Bolsa Família e Minha casa, minha vida) e ter devolvido um ano depois.

Espero que, agora, a senhora reconheça ter errado quando pensou que poderia ter como aliada a classe política de direita e quando assumiu para o Brasil a mesma política econômica, desumana e cruel  com os mais pobres que seu adversário tinha prometido fazer na campanha para a eleição. É estranho que não é por isso que tanta gente tem ido às ruas pedir a sua queda. Em nenhuma das manifestações pelo impeachement vimos denúncias contra a sua política ecológica ou contra a forma como seu governo tem tratado os índios ou como tem ignorado os lavradores sem-terra, carentes de uma reforma agrária justa e urgente. Esses temas nem passam pela cabeça dos que lhe fazem oposição.  Daí eu concluo que os brasileiros que pedem sua saída não têm essa posição por causa dos erros e falhas do seu governo e sim, ao contrário pelas coisas boas e por causa das políticas sociais que o PT e o governo presidido por ele tem feito ao país desde a posse do presidente Lula em 2003.

Se a senhora quiser evitar o golpe e reconquistar a popularidade perdida na classe média e até se tornar uma figura aceita e promovida pela Globo, pelas redes de televisão, pela Veja e pela maioria dos jornais brasileiros, basta tomar imediatamente as seguintes decisões:

1° - mudar as leis trabalhistas, em prejuízo dos assalariados, principalmente, revogar a política de valorização do salário mínimo, atualmente em vigor (desde que o governo do PT assumiu o poder).

2° – ampliar a terceirização irrestrita da mão-de-obra.

3° - entregar as reservas de petróleo do pré-sal às empresas transnacionais, como defende o senador José Serra.

Além disso, decida logo privatizar o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Introduza o ensino pago nas universidades federais, como primeiro passo para a sua privatização. E para que tudo isso seja feito sem maiores problemas, reprima os movimentos sociais e a liberdade de expressão. Hoje mesmo, tome a decisão de expulsar os médicos cubanos e outros estrangeiros que trabalham no Programa Mais Médicos. Isso deixará sem atendimento centenas de municípios pobres, nos quais a maioria dos ilustres médicos brasileiros não quer ir, mas, imediatamente, a senhora ganhará o apoio da Associação Médica Brasileira. Quanto à agricultura, não esqueça de ir além do que seu governo já tem feito e dê ao agronegócio autoridade total para expulsar os índios de suas terras. A senhora já tem a ministra competente pra isso. Acima de tudo, o mais importante para que seu nome passe a ser bem aceito por essa massa manipulada é eliminar a política externa independente e retomar o papel que, antes do governo do presidente Lula, o Brasil tinha de serviçal dos Estados Unidos. Se a senhora fizer isso, amanhã ninguém mais falará em golpe e não terá uma oposição forte, nem desses políticos, nem dos meios de comunicação. A embaixada norte-americana fará uma festa por ter conseguido os seus objetivos mais facilmente aqui no Brasil do que na Venezuela, no Equador e na Bolívia, onde os governos mais populares ainda resistem.

Enquanto a maioria do povo brasileiro não acordar, a senhora só terá mesmo na oposição os movimentos sociais e pessoas como eu que apoiam a senhora porque, justamente, apesar de todas as contradições do seu governo, ainda não aceitou realizar essas medidas desejadas pelo Império. Que a luz divina a ilumine hoje e sempre para não trair a sua dignidade humana e a confiança dos brasileiros que votaram na senhora.

Seu irmão Marcelo Barros

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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