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Texto, sábado, 07 de fevereiro 2015

O Dom está vivo!

Nesse domingo, às 11 horas, na Igreja das Fronteiras, local onde, durante 40 anos, Dom Helder Camara morou e onde ele faleceu, diversas comunidades cristãs, movimentos sociais, grupos artísticos e até maracatus e blocos de Carnaval se reúnem para celebrar o 106° aniversário de nascimento de Dom Helder e recordar a sua memória tão querida. O aniversário do Dom era no dia 07 de fevereiro. Por isso, falo disso hoje. 

Alguém que ouviu falar dessa homenagem amanhã nas Fronteiras perguntou que sentido tem celebrar aniversário natalício de alguém que já faleceu há mais de 15 anos. 

Celebramos o nascimento de Dom Helder para testemunhar que ele continua presente entre nós. Lembramos sua vida e seus ensinamentos para manter viva a sua profecia e continuarmos, hoje, a causa pela qual ele deu a vida.   

No Evangelho, Jesus alerta que alguns grupos religiosos da época matavam os profetas e depois construíam para eles belos túmulos para homenagear sua memória. Faziam isso para garantir que estavam bem mortos e sepultados. Essa tendência existe em relação a todas as grandes figuras que marcaram a humanidade. Na Índia, nem sempre as pessoas que se colocam como herdeiras do Mahatma Gandhi agem de acordo com a sua profecia de não violência. Em torno da herança do pastor Martin-Luther King nos Estados Unidos, há muitos problemas, como houve entre os herdeiros de Nelson Mandela. No Brasil, quem representa realmente a herança viva de Paulo Freire? Há discordâncias graves sobre isso. Com Dom Helder, pastor e profeta de Deus, poderia ser diferente. No entanto, somos todos humanos. Mesmo entre nós, grupos e pessoas que, em vida, nunca aceitaram a mensagem e o testemunho do Dom, agora podem até reconhecê-lo como santo e colocá-lo em um altar, mas nada fariam para retomar o jeito de ser Igreja pela qual Dom Helder lutou a vida inteira, nem acolhem o espírito de fraternidade universal que ele viveu.  

O mundo atual ainda está mais desigual e injusto do que nos tempos de Dom Helder. Por isso, o testemunho de vida, a forma de ser pastor e a mensagem do Dom não só são atuais, mas se revelam cada dia mais necessárias e urgentes. Em Roma, o papa Francisco retomou o espírito de Dom Helder e atualiza, a cada dia, a sua mensagem. No entanto, o papa está bastante sozinho. Sua proposta de uma Igreja em saída e de ministros com cheiro de ovelha precisa de uma força maior do Espírito Divino para se espalhar pelas Igrejas locais. Essa celebração do aniversário de Dom Helder Camara nos convida a assumir a proposta evangélica do papa Francisco em nossa comunidade local, católica ou evangélica.

Se o Dom estivesse fisicamente conosco, em dúvida, estaria engajado de corpo e alma no projeto de uma ampla e profunda Reforma Política para a sociedade brasileira e estaria reatualizando no meio do mundo cristão e não cristão a Ação Justiça e Paz, como instrumento para transformar e cuidar da natureza como sinal da ternura divina conosco. Como profeta, ele nos faz ouvir o que o Espírito diz hoje às Igrejas. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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