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Vida consagrada ou consagração da vida?

            Hoje, se encerrou em Aparecida, SP, um congresso nacional de estudos da Conferência dos Religiosos/as do Brasil. Esse encontro de cinco dias reuniu 600 irmãos e irmãs das mais diversas congregações religiosas. Ontem, pela manhã, eu tinha o encargo de falar sobre Espiritualidade da Vida Religiosa hoje

Comecei perguntando o que significa hoje espiritualidade? É claro que tradicionalmente poderia significar o método para se viver profundamente a vocação religiosa ou consagrada. Em uma perspectiva mais atual e mais ecumênica, a espiritualidade significa a qualidade de vida que temos e principalmente o amor à vida, vida nossa, dos outros e de todos os seres vivos. 

Em uma mudança de época como essa que vivemos atualmente, temos uma sociedade que se define pela rápida transformação de tudo (um produto de um ano já é considerado superado). Em uma sociedade que cria esse tipo de cultura, as religiões e Igrejas fundamentadas em tradições e que não querem se adaptar e mudar têm mais dificuldade de dialogar com a humanidade. E o pior disso é que os religiosos fazem isso em nome de Deus, como se fosse Deus o conservador e fechado a mudanças.  

Para as comunidades religiosas, sem dúvida, um elemento importante para viver a espiritualidade hoje é assumir a fragilidade. Trata-se de reconhecer que estamos em crise e ter a coragem de aceitar as pessoas reais que somos e os irmãos e irmãs (esses que verdadeiramente estão aqui e agora) com os quais contamos. 

Por todo o Brasil, é impressionante a quantidade de testemunhos de trabalhos excelentes e de inserções corajosas de irmãos e irmãs, com os índios, com os lavradores sem-terra, com pessoal de periferia e outras categorias de trabalhadores. O que precisamos avaliar é se esses irmãos e irmãs religiosos que fazem coisas tão boas, fazem isso a partir de suas congregações, ou apesar delas e às vezes até em conflito com elas?

Muitas congregações fundadas nos séculos passados foram pensadas para responder a problemas de uma sociedade que não existe mais. Eram organizações de uma Igreja Cristandade. Hoje, é urgente serem capazes de mudar na direção de uma Igreja serviço e como diz o papa Francisco: Igreja em saída. 

Penso que muito mais do que insistir em vida consagrada, se trata de firmar uma consagração da vida. Consagração a um projeto concreto que traduza o projeto divino de justiça, paz e comunhão com o universo. Essa consagração da vida e em função da vida vai na direção do que os índios latino-americanos chamam de Bem-viver. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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