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Vigília Pascal

Vigília Pascal : Mc 16, 1 – 8.

 

Vamos nos inserir na conspiração desta madrugada

 

Para aclamar a boa notícia da ressurreição de Jesus, proclamada nesta vigília, o nosso querido e saudoso Reginaldo Veloso, inspirado em um bendito popular do sertão do Nordeste, compôs um cântico, do tipo responso, que proclama: “Lá vem a barra do dia, lá vem o Filho de Maria. 

A vida vence a morte para a nossa alegria. 

Aleluia, aleluia, aleluia, aleluia, aleluia, aleluiaaaaaa....”. 

É esta boa notícia que por mais que, a cada momento da vida, repitamos e em cada celebração cristã, celebremos, parece que é uma notícia que nunca acaba de ser dada. É uma boa nova sempre nova como o amanhã e que precisa que nos juntemos a aquelas mulheres, amigas e discípulas de Jesus que foram ao santo sepulcro, naquela madrugada que foi a nossa primeira vigília pascal. Conforme o relato de Marcos que acabamos de proclamar e escutar, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e Salomé foram as primeiras a acordar a aurora nova do dia da ressurreição. O sol nem havia nascido, o evangelho conta que elas fizeram duas coisas importantes: a primeira foi que retomaram o gesto de José de Arimateia, ao contrário. Ele comprou um lençol de linho, envolveu nele o corpo morto de Jesus e o fechou com uma pedra enorme. As mulheres compraram perfumes e  foram ao túmulo de madrugada. José de Arimateia tinha fechado o túmulo com uma pedra pesada. Ao contrário, as mulheres querem remover a pedra. E, preocupadas, conversam entre si: Quem vai remover a pedra para nós? 

Quantas vezes, nos caminhos escuros da vida, nos deparamos com pedras que impedem o caminho e nos perguntamos como aquelas companheiras: Quem vai conseguir remover a pedra? 

A primeira boa notícia desse evangelho é que as mulheres encontraram a pedra removida. Encontraram o sepulcro de Jesus vazio e, sentado à direita (lugar que os discípulos disputavam: quem sentaria à direita de Jesus no reino). Agora, era um jovem vestido de branco. Esse rapaz vestido de branco, como o tecido de linho branco com o qual José de Arimateia cobriu o corpo de Jesus. Aquele jovem dá às mulheres a notícia: Vocês procuram Jesus, o Crucificado? Não está aqui no túmulo. Vejam que o túmulo está vazio. Ele ressuscitou! É a partir desta boa notícia que o jovem dá às mulheres uma tarefa difícil: refazer a comunidade dispersa e destruída. Quando Jesus foi preso, este evangelho diz que todos os discípulos fugiram. Agora, as mulheres devem procurar Pedro e os discípulos para lhes dar a notícia de que Jesus Vivo os espera na Galileia, na periferia do mundo, no meio dos pobres de onde eles vieram e onde estavam inseridos.

A boa notícia da ressurreição será o motivo para que aquela comunidade que se tinha dispersado possa novamente se reunir. Será que, hoje, essa notícia tem ainda essa força de nos reunir de nossas dispersões e nos fazer de novo retomar o caminho do discipulado para testemunhar que a Vida, a vida de nossa vida, venceu e vence sempre a morte? 

Em sua primeira redação, este evangelho se concluía com esse versículo 8 que parece estranho. Diz que “as mulheres saíram do túmulo tremendo de medo e não disseram nada a ninguém, pois estavam com medo”. De fato, sabemos que o medo nos impede de falar e nos impede de testemunhar a ressurreição. O medo é o grande inimigo da boa notícia do evangelho. Assim que as mulheres chegaram ao túmulo, a primeira palavra do rapaz vestido de branco tinha sido: Não se assustem. Não tenham medo. Mas, como não ter medo, naquela situação? Não medo de fantasma ou de anjo. Não. Medo político. Medo de dar uma notícia contrária a tudo que estava acontecendo. Medo de propor o contrário do que era o considerado normal. Como dar boa notícia e anunciar a Vida quando as pessoas estão chorando a morte e se escondem com medo da repressão política, a mesma que matou Jesus? 

Esse evangelho da ressurreição termina assim falando de medo, de que as mulheres não disseram a notícia que tinham sido enviadas a dar. Claro que se depois elas não tivessem dado a notícia, os discípulos não teriam sabido e não teríamos hoje Cristianismo nem Igrejas. Mas, o evangelho termina assim inacabado para nos convocar para que continuemos essa conspiração da madrugada. Tomemos as palavras dessas mulheres que já fizeram muito e nós continuemos essa caminhada que antecipa o sol nascer: vamos continuar essa conspiração da Vida. Vamos nos encarregar de testemunhar que o túmulo está vazio e Jesus ressuscitado nos espera não nos templos, mas nas Galileias da vida, Galileias que hoje se chamam com outros nomes, como Complexo do Alemão no Rio de Janeiro, Comunidade Caranguejo Tabaire em Recife e tantas e tantas comunidades pobres e marginalizadas, espalhadas pelo mundo afora. O evangelho é para nós fonte de inspiração. Mas, é principalmente, de conspiração. Mesmo quando as coisas parecem não ter jeito, cantemos e testemunhemos: A vida vence a morte para a nossa alegria, aleluia!

 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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